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quinta-feira, 19 de março de 2015

O descompasso entre a escola regular e o mundo atual



A carta do artigo de Renato Carvalho retrata uma realidade: o descompasso entre a escola regular e o mundo atual. Este pai teve muita sensibilidade, lucidez e sabedoria para retratar o que muitos pais e educadores sentem. Vamos refletir um pouco sobre isso?

Clarice querida,

O mundo está mudando rápido. Bem mais rápido que as nossas escolas. Há tantas delas que ainda não perceberam que este mundo internético em que hoje vivemos é radicalmente diferente do mundo desconectado de algumas poucas décadas atrás e que nossa Educação agora pode e precisa ser muito melhor.

Grandes ideias não faltam: escolas na nuvem na Índia, aulas sem turmas nem professores em Portugal, salas-de-aula invertidas nos Estados Unidos, brinquedos que ensinam crianças a programar computadores na Inglaterra, milhares de pessoas do mundo todo fazendo juntas cursos de nível superior!

Mas é preciso querer ver a necessidade de mudar, e isso demora. Por mais que eu esteja otimista, não acho que os anos que te restam na escola sejam tempo suficiente para essa onda de renovação se espalhar pelo Brasil e chegar à tua sala-de-aula.

Vai ser por pouco… Você é parte da última geração de alunos da escola do passado. Ou seja, alunos de um modelo de educação igualzinho ao que eu tive, e que também foi o mesmo dos teus avós, teus bisavós, teus trisavós.

Mas se não dá para evitar que as manhãs da tua infância sejam gastas em aulas chatas e desestimulantes, você pode pelo menos ficar alerta aos defeitos desse modelo. Assim, enquanto você aproveita o que a escola pode te oferecer de bom, vai conseguir impedir que ela te ensine algumas coisas que a mim custaram muitos anos para desaprender.

Não deixe que a escola te ensine que conhecimentos podem ser compartimentados, separados em caixinhas, isolados uns dos outros.
Na escola do passado, a matemática acaba quando começa a física e a geografia acaba quando começa a história. No mundo, há biologia no esporte, matemática na música, história na literatura, gramática na programação de computadores… Por isso, depois de ver algo de perto, dê sempre um passo para trás, perceba as relações, enxergue o todo.

Não deixe que a escola te ensine que alguns conhecimentos são mais importantes que outros.
Na escola do passado, para cada aula de artes há duas de geografia e para cada uma de geografia há duas de matemática. Música, artes plásticas, esportes, religião, filosofia são tratados como matérias de “segundo time”. Quantos grandes artistas e esportistas foram vistos como maus alunos e forçados a abandonar seus talentos porque o conhecimento que lhes interessava não era o mesmo que interessava à escola! Persiga teus interesses mesmo que eles não interessem a mais ninguém.

Não deixe que a escola te ensine que há um momento específico para aprender cada coisa.
Na escola do passado, quem não consegue acompanhar a turma é tido como um fracassado e quem quer avançar mais rápido é freado, impedido. Ela exige que todos aprendam o mesmo ao mesmo tempo. Mas as pessoas não são todas iguais. Você pode ter mais facilidade que os colegas em um determinado assunto e menos em outro. Não deixe que te empurrem nem que te segurem. Respeite teu próprio ritmo de aprendizado.

Não deixe que a escola te ensine a decorar.
Ao contrário, esqueça tudo que puder. O homem dominou o planeta porque foi capaz de fabricar ferramentas que estenderam os limites das nossas mãos e pés. Agora, fomos ainda mais além e fabricamos ferramentas que estendem os limites do nosso cérebro. Não precisamos mais desperdiça-lo usando-o como um depósito de nomes, datas e fórmulas; hoje podemos aproveitar todo o potencial dele para analisar, criticar e refletir o mundo de informações que podemos acessar com um clique. A Internet é o teu HD, o cérebro é o teu processador.

Não deixe que a escola te ensine a te contentar com pouco.
Na escola do passado, as consequências de tirar nota 10 ou nota 7 são as mesmas. O aluno excelente passa de ano da mesma forma que o mediano, com, no máximo, um elogio da professora. Assim, aos poucos os alunos vão ficando satisfeitos em “passar por média”. Nunca fique contente com a média. Dê teu melhor sempre, em tudo o que fizer (inclusive nesses poucos anos que ainda te restam na escola do passado). No mundo, ao contrário da escola, a excelência faz muita diferença.

Não deixe que a escola te ensine a acreditar que ela é suficiente.
A escola do passado lamentavelmente abdicou da missão de preparar os alunos para o futuro e se limita a tentar prepará-los para o vestibular ou o ENEM. Mas a tua vida produtiva começa exatamente depois desse ponto e para ser bem sucedida nela você precisará de muito mais do que ciências, matemática, português, história e geografia. O futuro vai exigir que você tenha uma boa noção dos teus direitos e deveres para cumprir teu papel de cidadã, conheça um pouco de economia para saber gerenciar teu dinheiro, aprenda sobre empreendedorismo para fazer tuas ideias virarem realidade, tenha consciência global para compreender teu lugar no mundo, domine a Internet enquanto ferramenta de comunicação e muito mais. Há muitos conhecimentos que não estão na escola. Procure-os onde estiverem.

Não deixe que a escola te ensine que provas são capazes de medir a tua capacidade e inteligência.
A história está repleta de gênios que foram tidos como maus alunos. Eles eram considerados incapazes nas suas escolas porque estavam à frente delas e, portanto, não podiam ser medidos pelos seus testes. As provas da escola do passado servem para provar quem está mais adequado ao mundo do passado.

Não deixe que a escola te ensine que você não tem nada a ensinar.
Na escola do passado os alunos são separados em séries de acordo com suas faixas etárias e isso praticamente impede a interação entre idades diferentes. Colegas um pouco mais velhos têm muito a te ensinar e, o que é ainda mais importante, os mais novos têm muito a aprender contigo. E ensinar é a forma mais eficiente de aprender. Quando um professor detém o monopólio do ensino, ele te rouba inúmeras oportunidades de aprender ensinando e ensinar aprendendo.

Não deixe que a escola te ensine que errar é ruim.
Provas fazem isso o tempo todo, sem que os alunos percebam. Do jeito que são feitas, elas servem apenas para apontar e punir nossos erros e desperdiçam a oportunidade de nos ajudar a aprender com eles. O resultado é que aos poucos vamos nos acostumando a não arriscar e a evitar erros a todo custo. Não há nada pior para o aprendizado do que o medo de errar. Erre! Erre de novo! Erre à vontade. Erre quantas vezes forem necessárias até acertar.

Não deixe que a escola te ensine a ser apenas consumidora de ideias.
A escola do passado se limita a ruminar as ideias dos outros. Diariamente, aula após aula, os alunos mastigam, engolem e digerem um enorme cardápio de informações. Não há nenhum espaço para que eles gerem conhecimento, produzam pensamentos, criem ideias, somem. Os alunos são tratados como se fossem incapazes disso e logo se convencem dessa incapacidade. O mundo do futuro é o mundo da troca. Nele, os bem sucedidos não serão os que forem capazes de acumular mais ideias, mas os que forem capazes de distribuir mais. Escreva, desenhe, cante, dance, filme, blogue, fotografe, pinte e borde. Crie, produza, pense, gere, compartilhe.

E o mais importante de tudo, minha filha: não deixe que a escola te ensine que aprender é a mesma coisa que ser ensinado.
Toda criança nasce uma esponjinha de conhecimento ávida para absorver os comos e os porquês de tudo que vê. Essa curiosidade sem fim, essa fome de aprender costuma durar até o exato momento em que ela passa pela porta da sala de aula da primeira série da escola do passado. É nesse momento que as crianças são convencidas que aprender não é experimentar, sentir e sujar as mãos de terra ou tinta, como faziam até agora, mas sim sentar silenciosamente em cadeiras alinhadas e ser ensinado por um professor que é o dono de todo o saber e que decide sozinho a hora de começar e de parar de estudar cada assunto. O aprendizado não vem mais da interação da própria criança com o objeto que ela está conhecendo. Agora, ele é “transferido”. A criança não faz mais perguntas, ouve respostas. A busca do conhecimento não começa mais nas interrogações dos alunos, mas nas afirmações do professor; o estudo não mais se inicia na curiosidade, mas na autoridade. A criança não está mais no comando do seu aprendizado, ela não é mais um sujeito ativo no ato de aprender, é um sujeito passivo do ato de ensinar do professor. Em resumo, a criança não mais aprende, é ensinada. Não abra mão da direção da tua vida. Viver é aprender e você tem autonomia (ou seja, a liberdade e a responsabilidade) para decidir o que aprender e, portanto, como viver. Não a ceda a ninguém.

Se você conseguir impedir a escola de te ensinar essas coisas, vai acabar descobrindo que vida escolar é diferente de vida de aprendizado. E então, terá a vida inteira para desfrutar dessa incrível Era do Conhecimento que está apenas começando.

Te amo.

Teu pai

quinta-feira, 12 de março de 2015

Workshop Perfil Cognitivo


WORKSHOP PERFIL COGNITIVO - um mapa do seu potencial
Data: 24/03/2015 (3ª feira)
Nº de participantes: 10 pessoas
Horário: das 18h às 22h
Local: Espaço Educacional - Rua Gomes de carvalho, 345 na Vila Olimpia
Objetivo: Viagem Colaborativa a Findhorn
https://www.facebook.com/events/1550999881826382/

O Perfil Cognitivo foi desenvolvido como resultado de muitos anos de estudo, experimentação e avaliação, sempre com o objetivo de descobrir recursos e ferramentas que propiciassem um aprendizado com prazer e produtividade. Trata-se de uma poderosa ferramenta que desperta e desenvolve o autoconhecimento de uma maneira leve, prazerosa, extremamente prática e eficiente.

Este recurso mapeia a forma como pensamos, aprendemos e agimos, indicando também nossas principais habilidades e interesses. É formado por um conjunto de testes e pela associação de seus resultados com situações do dia a dia.

Acreditamos que nosso modo de pensar é único e que cada cérebro absorve, organiza e reage às informações do seu jeito. Daí a necessidade de descobrir o “nosso jeito” de pensar, estudar, aprender, sentir e relacionar. 

O Perfil Cognitivo é um mapa nessa aventura de autoconhecimento, na busca de quem você é, de como você é e como pode revelar e explorar o que tem de melhor. 

O objetivo é que o trabalho de autoconhecimento torne-se um hábito diário, desenvolvendo a capacidade de pensar sobre suas atitudes e avaliar seus pontos fracos e fortes diante de situações-problema. 

Para melhor organização e apresentação dos resultados, dividimos esse mapeamento em três partes: Estilos de Aprendizado, Estilos de Raciocínio e Inteligências Múltiplas.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Conheça mais o EE



Diego Macedo, da Escola de Rua, hoje é um professor e educador no Espaço Educacional e fez quatro perguntas para a pedagoga Jamile Coelho, diretora do Espaço Educacional. Confira abaixo as respostas, que foram discutidas com toda a equipe do EE. O resultado foi uma integração e sincronicidade entre todos os educadores. Confira:

1. Qual é a questão que está por trás do “chamado” ou propósito do Espaço Educacional ?

O que está por trás de tudo que fazemos é olhar o ser humano em primeiro lugar e construir um vínculo afetivo para ensinar e aprender. Atendemos as necessidades de quem chega de forma personalizada, levando a pessoa por um caminho de aprendizado em que se sinta motivado (“brilho nos olhos”) e descubra seu potencial (autoconhecimento), criando “asas para voar” (autonomia). E, principalmente descubra que tem luz própria! Acho que três palavras resumem este chamado: Aprendizado para a vida, autoconhecimento e inovação.

O EE tem uma missão há muitos anos: “Educar com competência, criatividade e afetividade.”

2. Para que esse chamado ou propósito aconteça, o que está faltando?

Está faltando uma expansão, ou seja, que mais pessoas que venham à procura de nosso trabalho. Acredito que muitas pessoas ainda pensam que aqui é um lugar de reforço escolar. Não enxergam verdadeiramente o que fazemos com muito amor e competência.

O que está aprendendo sobre si mesma no Espaço Educacional?

Aprendo a cada dia que eu já enxergava coisas que estão vindo à tona agora (educação para a vida de uma forma diferente da tradicional), quando todos pensavam que eu ia ter uma escola e eu sabia que não era uma escola que eu queria. Na época, não sabia definir, mas não tive medo de ir em busca do meu sonho, sempre construindo com outras pessoas, os inúmeros professores que já passaram pelo EE, e que, quando saíam, afirmavam que aqui era o lugar que mais haviam aprendido o que era ser um educador.

Aprendi também que reflito no EE muito do que eu sou (criativa, afetiva, inovadora) e minhas dificuldades (equilibrar os hemisférios cerebrais), pois sou muito emocional, intuitiva (Lado Direito do cérebro) e preciso desenvolver a parte racional (Lado esquerdo do cérebro).

4. Quais os próximos passos no Espaço Educacional?

Entre os próximos passos estão:

a) Trazer aos poucos para o EE o aprendizado em rede de forma colaborativa e inclusiva;

b) Abrir espaço para um coworking para educação inovadora, ou seja, utilizar todo nosso espaço de aprendizagem para que outras pessoas que tenham os mesmos valores e crenças utilizem (manhã, tarde, noite e finais de semana) e promovam uma circulação de energia;

c) Apresentar para as pessoas o que fazemos por meio de vídeos no canal do Espaço Educacional no youtube e pelo face e blog do EE, atualizar o site do EE e outras ideias que forem surgindo;

d) Aumentar o número de alunos do Projeto Recomeçar é uma necessidade, pois é um projeto que resgatamos o ser humano que por algum motivo estava excluído e com bloqueio no processo de aprendizagem.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015



O modelo da KIPP School, dos Estados Unidos, é fundamentado na pesquisa do Dr. Martin Seligman da UPenn e do falecido Dr. Chris Peterson, considerados os pais da Psicologia Positiva. Junto com o trabalho de Dr. Angela Duckworth, a KIPP tem uma abordagem baseada em sete características que são preditivos de sucesso a longo prazo, vidas felizes e bem-sucedidas e bem-estar:entusiasmo, persistência, otimismo, auto-controle, gratidão, inteligência social e curiosidade. Confira detalhes, com informações do blog da Tonia Carasin:

ENTUSIASMO: abordar a vida com entusiasmo e energia ; sentir-se vivo e ativo

Comportamentos: Participa ativamente; mostra entusiasmo; revigora outros

AUTO- CONTROLE: regular o que se sente e faz; ser auto-disciplinado

Comportamentos: Vai para a aula preparado; presta atenção e resiste a distrações; lembra e segue as instruções; começa a trabalhar de imediato, em vez de procrastinar; mantém a calma mesmo quando criticado; permite que os outros falem, sem interrupção; é educado com todos; mantém seu temperamento sob controle.

GRATIDÃO: ser consciente e grato por oportunidades que se tem e pelas coisas boas que acontecem

Comportamentos: Reconhece e demonstra apreço pelos outros; reconhece e demonstra apreço por suas oportunidades

CURIOSIDADE: ter interesse em experiências e em aprender coisas novas para o seu próprio bem; achar coisas novas fascinantes

Comportmentos: Fica ansioso para explorar coisas novas; faz perguntas e solicita respostas para aprofundar sua compreensão; ouve ativamente os outros

OTIMISMO: espera o melhor no futuro e trabalha para alcançá-lo

Comportamentos: Recupera-se de frustrações e reveses rapidamente; acredita que o esforço vai melhorar seu futuro

PERSISTÊNCIA: terminar o que começa; completa uma tarefa ou projeto apesar dos obstáculos; uma combinação de persistência e resiliência.

Comportamentos: acaba tudo o que começa; se esforça muito, mesmo depois de experimentar o fracasso; funciona de forma independente com foco no objetivo.

INTELIGÊNCIA SOCIAL: estar consciente dos motivos e sentimentos de outras pessoas e de si próprio, em grupos pequenos e grandes.

Comportamentos: Capaz de encontrar soluções durante os conflitos com os outros; demonstra respeito pelos sentimentos e perspectiva dos outros; sabe quando e como incluir outros

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Movimento estimula jovens a buscarem a felicidade


O texto para reflexão desta semana é sobre um movimento que estimula jovens a buscarem a felicidade. O projeto chamado Buena Onda é voltado para autoconhecimento, reflexão e protagonismo em relação a própria vida. Confiram o texto do Porvir:

“As escolas discutem pouco o que é importante de verdade. Somos ensinados a entender a vida como uma luta, uma batalha, mas o mais importante é aprender a viver e não aprender a ganhar a vida”. Esse é o argumento de Rogério Oliveira, ao explicar o movimento que fundou, o Buena Onda, que realiza palestras, aulas e workshops para empresas e escolas sobre felicidade, mudanças e escolhas.

Voltada para jovens que estão prestando vestibular, o movimento participa do Descomplica, um site de videoaulas que prepara estudantes para o Enem, com o intuito de ajudar a tirar o peso que esse momento de escolhas relacionadas a universidade, carreira e profissão representa para o jovem. “É como se isso fosse definir quem eles vão ser para o resto da vida. Por isso, nos propomos a falar o que eles não escutaram durante todos os anos da vida escolar”, argumenta Oliveira.

A aula de mais de duas horas de duração baseia a parte conceitual em um manuscrito de Platão, conta o fundador, e é dividida em três elementos principais que, combinados e colocados em prática, elevam as chances de se levar uma existência mais plena: ser dono da própria vida, a questão da liberdade e sair do piloto automático.

“Ser dono da própria vida quer dizer assumir a responsabilidade, queremos levar a ideia de protagonismo para os jovens”, conta. Sobre a questão da liberdade, o debate é contra a autocensura que muitas pessoas fazem para ou por causa de outras pessoas. “É sobre manter suas crenças em todas as situações, independentemente do julgamento dos outros”, resume Oliveira. Já sair do piloto automático quer estimular os jovens a perceberem o quanto das decisões que tomam são por eles e o quanto são pela formação que tiveram de casa, do bairro, da cidade ou país. “Queremos faze-los questionar se realmente querem fazer o que estão fazendo. Querem mesmo fazer uma faculdade? Querem ter filhos?”, pontua.

“Ser dono da própria vida quer dizer assumir a responsabilidade, queremos levar a ideia de protagonismo para os jovens”

Todo esse trabalho é para fazer os jovens que estão buscando seus próprios caminhos compreenderem que podem trilhar rumos completamente diferentes do padrão, do comum na sociedade. “Somos quase uma linha de montagem, desenhados para funcionar nessa engrenagem, somos programados desde cedo para isso”, argumenta Oliveira, que completa dizendo que o mais valioso é o entendimento que “ser eu mesmo” basta.

Para ele, quanto mais cedo esses questionamentos e reflexões forem feitos, melhores serão os resultados, pois “quanto mais tempo de vida passar, mais treinado estamos para fazer parte dessa engrenagem”.

O movimento está desenvolvendo um projeto para trabalhar com crianças, que será mais voltado para questões de percepção corporal, envolvendo meditação e atividades mais lúdicas. “É como aprender um novo idioma, quanto mais cedo, melhor”, diz Oliveira.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

É possível fazer educação de qualidade sem escola, diz o educador Tião Rocha



Confiram o texto "É possível fazer educação de qualidade sem escola, diz o educador Tião Rocha", publicado no QSocial

É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).

Curvelo, no Vale do Jequitinhonha (MG), foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.

O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”

Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.

Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” (biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.

Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as ferramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.

“Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência.Não precisamos de sala, precisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os instrumentos possíveis que levem o menino aaprender.”

Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se sentir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política de governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Tecnologia vai revolucionar as avaliações, diz estudo



Confiram o texto "Tecnologia vai revolucionar as avaliações, diz estudo", publicado no site Porvir. O que acham sobre o assunto?

Um recente estudo publicado pelo grupo editorial britânico Pearson chamado “Preparing for a renaissance in assessment” (“Preparação para um renascimento em avaliações”), direcionado a líderes educacionais, vê dois fatores como primordiais para induzir novos processos de avaliação: o primeiro é resultado da força da globalização e das tecnologias digitais, enquanto o último é inerente à percepção de que o paradigma atual já não funciona como deveria, pois até mesmo os melhores sistemas atingiram um limite de crescimento.

Elaborado pelos consultores Michael Barber, pesquisador de sistemas e reformas educacionais com passagem pelo governo britânico, e Peter Hill, que ocupou cargos de destaque no setor na Austrália, em Hong Kong e nos Estados Unidos, o texto mostra como a educação está diante de um ponto de inflexão. “Nós consideramos ensino/aprendizagem, currículo e avaliação como os três principais elementos de um processo educacional de sucesso. Nos últimos 20 anos, a avaliação foi um fator de atraso e, agora, vemos que ela pode ultrapassar os outros elementos e, por isso, atribuímos o termo renascimento”, disse Barber. Como a sociedade está profundamente ligada aos testes tradicionais, segundo ele, o principal desafio é promover reformas sem perder o rigor e o elo com exames que servem como parâmetros internacionais.

É neste cenário que entra em jogo a tecnologia, como por exemplo nos testes adaptativos, que permitem maior precisão e execução em menor tempo. Os dados vão dar ao professor maior entendimento sobre o que acontece com a classe e com cada aluno em tempo real, com a chance de diminuir ou aumentar o alcance do conteúdo estabelecido no currículo. “Agora podemos acompanhar o desenvolvimento de uma classe durante cinco anos da vida escolar. É uma variedade muito maior do que a atingida por um teste isolado”, diz Hill.

Todo esse conjunto de mudanças aliado a mais tempo e recursos, segundo os autores do documento, vai melhorar também a dinâmica do professor, que ficará livre dos trabalhos repetitivos e poderá dar atenção aos detalhes de cada aula e respeitar o ritmo dos alunos. “Isso vai criar uma revolução no aprendizado. O que era um sonho há seis anos agora é uma realidade”, sentencia Hill. Um outro impacto poderá ser visto nas reuniões pedagógicas, que antes se baseavam em hipóteses e agora podem servir para um trabalho colaborativo para motivar cada estudante.

As novas plataformas de ensino também podem dar origem a uma nova geração de avaliações capazes de chegar a um aprendizado profundo e a uma variedade de competências inter e intrapessoais, como trabalho em equipe e a capacidade de comunicação oral, além dos traços de personalidade. Mais rápido, mais preciso, mas e a velha “cola” e o risco de plágio? No lugar de testes cumulativos, é possível realizar apenas aqueles com propósito específico (com possibilidade de repetição) e proporcionar relatórios que incentivam o crescimento sem a ideia de sucesso ou fracasso.

Responsável por reformas em Hong Kong e na Austrália, Hill relata que boas avaliações sempre levam em conta a validade e a confiabilidade. “Validade garante que o que se está medindo diz respeito ao planejado, enquanto a confiabilidade permite os mesmos resultados caso a avaliação seja repetida”. Se não tiver essas características, a avaliação não pode ser usada, segundo o consultor, que coloca a capacidade de realização com os recursos existentes como mais uma característica a ser considerada independentemente do conteúdo e dos exercícios da avaliação.

Para alcançar o “renascimento”, diz o artigo, é importante olhar além da educação, porque muitas vezes a inovação acontece em áreas de pouco ou nenhum contato com o ensino, como é o caso dos jogos de videogame. Entretanto, os autores também ressaltam que, para que o benefício seja notado por todo o sistema, é necessária a ação de governos, uma vez que a infraestrutura tecnológica não pode ficar a cargo de uma única escola.

Para ajudar gestores e educadores a se prepararem para esse “renascimento das avaliações”, Barber e Hill apresentam recomendações para evitar erros comuns. Muitas escolas, dizem os especialistas, tiveram problemas ao adotar sistemas incipientes que não foram devidamente testados e se viram frustradas com os resultados. Veja a lista a seguir:

Pensar no longo prazo – não sabemos quando o renascimento chegará, mas precisamos estar preparados ao investir em capacidade para que se torne uma realidade

Estabelecer parcerias – precisamos estabelecer parceiras entre professores, governos e todos que trabalham com educação e tecnologia

Criar infraestrututra – investir na alta qualidade educacional de todos os níveis, inclusive no profissional, é crucial

Melhorar a formação de docentes – investir na capacitação de professores para tecnologia e avaliações sofisticadas

Permitir diferentes níveis de implementação – encorajar escolas e professores a inovar com um modelo a partir de exemplos bem-sucedidos

Adotar uma metodologia de resultados – faça dele uma prioridade, planeje, garanta verificações constantes com todos os principais envolvidos e deixe bem claro quem é responsável

Comunicação constante – deve envolver governo e líderes educacionais que estão trabalhando juntos e também escolas e pais

Coloque em prática uma metodologia de mudança – nosso ponto de partida precisa ser o conhecimento sobre o que é necessário para obter sucesso e mudar o sistema incluindo uma visão compartilhada e de aprendizado