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quinta-feira, 19 de março de 2015

O descompasso entre a escola regular e o mundo atual



A carta do artigo de Renato Carvalho retrata uma realidade: o descompasso entre a escola regular e o mundo atual. Este pai teve muita sensibilidade, lucidez e sabedoria para retratar o que muitos pais e educadores sentem. Vamos refletir um pouco sobre isso?

Clarice querida,

O mundo está mudando rápido. Bem mais rápido que as nossas escolas. Há tantas delas que ainda não perceberam que este mundo internético em que hoje vivemos é radicalmente diferente do mundo desconectado de algumas poucas décadas atrás e que nossa Educação agora pode e precisa ser muito melhor.

Grandes ideias não faltam: escolas na nuvem na Índia, aulas sem turmas nem professores em Portugal, salas-de-aula invertidas nos Estados Unidos, brinquedos que ensinam crianças a programar computadores na Inglaterra, milhares de pessoas do mundo todo fazendo juntas cursos de nível superior!

Mas é preciso querer ver a necessidade de mudar, e isso demora. Por mais que eu esteja otimista, não acho que os anos que te restam na escola sejam tempo suficiente para essa onda de renovação se espalhar pelo Brasil e chegar à tua sala-de-aula.

Vai ser por pouco… Você é parte da última geração de alunos da escola do passado. Ou seja, alunos de um modelo de educação igualzinho ao que eu tive, e que também foi o mesmo dos teus avós, teus bisavós, teus trisavós.

Mas se não dá para evitar que as manhãs da tua infância sejam gastas em aulas chatas e desestimulantes, você pode pelo menos ficar alerta aos defeitos desse modelo. Assim, enquanto você aproveita o que a escola pode te oferecer de bom, vai conseguir impedir que ela te ensine algumas coisas que a mim custaram muitos anos para desaprender.

Não deixe que a escola te ensine que conhecimentos podem ser compartimentados, separados em caixinhas, isolados uns dos outros.
Na escola do passado, a matemática acaba quando começa a física e a geografia acaba quando começa a história. No mundo, há biologia no esporte, matemática na música, história na literatura, gramática na programação de computadores… Por isso, depois de ver algo de perto, dê sempre um passo para trás, perceba as relações, enxergue o todo.

Não deixe que a escola te ensine que alguns conhecimentos são mais importantes que outros.
Na escola do passado, para cada aula de artes há duas de geografia e para cada uma de geografia há duas de matemática. Música, artes plásticas, esportes, religião, filosofia são tratados como matérias de “segundo time”. Quantos grandes artistas e esportistas foram vistos como maus alunos e forçados a abandonar seus talentos porque o conhecimento que lhes interessava não era o mesmo que interessava à escola! Persiga teus interesses mesmo que eles não interessem a mais ninguém.

Não deixe que a escola te ensine que há um momento específico para aprender cada coisa.
Na escola do passado, quem não consegue acompanhar a turma é tido como um fracassado e quem quer avançar mais rápido é freado, impedido. Ela exige que todos aprendam o mesmo ao mesmo tempo. Mas as pessoas não são todas iguais. Você pode ter mais facilidade que os colegas em um determinado assunto e menos em outro. Não deixe que te empurrem nem que te segurem. Respeite teu próprio ritmo de aprendizado.

Não deixe que a escola te ensine a decorar.
Ao contrário, esqueça tudo que puder. O homem dominou o planeta porque foi capaz de fabricar ferramentas que estenderam os limites das nossas mãos e pés. Agora, fomos ainda mais além e fabricamos ferramentas que estendem os limites do nosso cérebro. Não precisamos mais desperdiça-lo usando-o como um depósito de nomes, datas e fórmulas; hoje podemos aproveitar todo o potencial dele para analisar, criticar e refletir o mundo de informações que podemos acessar com um clique. A Internet é o teu HD, o cérebro é o teu processador.

Não deixe que a escola te ensine a te contentar com pouco.
Na escola do passado, as consequências de tirar nota 10 ou nota 7 são as mesmas. O aluno excelente passa de ano da mesma forma que o mediano, com, no máximo, um elogio da professora. Assim, aos poucos os alunos vão ficando satisfeitos em “passar por média”. Nunca fique contente com a média. Dê teu melhor sempre, em tudo o que fizer (inclusive nesses poucos anos que ainda te restam na escola do passado). No mundo, ao contrário da escola, a excelência faz muita diferença.

Não deixe que a escola te ensine a acreditar que ela é suficiente.
A escola do passado lamentavelmente abdicou da missão de preparar os alunos para o futuro e se limita a tentar prepará-los para o vestibular ou o ENEM. Mas a tua vida produtiva começa exatamente depois desse ponto e para ser bem sucedida nela você precisará de muito mais do que ciências, matemática, português, história e geografia. O futuro vai exigir que você tenha uma boa noção dos teus direitos e deveres para cumprir teu papel de cidadã, conheça um pouco de economia para saber gerenciar teu dinheiro, aprenda sobre empreendedorismo para fazer tuas ideias virarem realidade, tenha consciência global para compreender teu lugar no mundo, domine a Internet enquanto ferramenta de comunicação e muito mais. Há muitos conhecimentos que não estão na escola. Procure-os onde estiverem.

Não deixe que a escola te ensine que provas são capazes de medir a tua capacidade e inteligência.
A história está repleta de gênios que foram tidos como maus alunos. Eles eram considerados incapazes nas suas escolas porque estavam à frente delas e, portanto, não podiam ser medidos pelos seus testes. As provas da escola do passado servem para provar quem está mais adequado ao mundo do passado.

Não deixe que a escola te ensine que você não tem nada a ensinar.
Na escola do passado os alunos são separados em séries de acordo com suas faixas etárias e isso praticamente impede a interação entre idades diferentes. Colegas um pouco mais velhos têm muito a te ensinar e, o que é ainda mais importante, os mais novos têm muito a aprender contigo. E ensinar é a forma mais eficiente de aprender. Quando um professor detém o monopólio do ensino, ele te rouba inúmeras oportunidades de aprender ensinando e ensinar aprendendo.

Não deixe que a escola te ensine que errar é ruim.
Provas fazem isso o tempo todo, sem que os alunos percebam. Do jeito que são feitas, elas servem apenas para apontar e punir nossos erros e desperdiçam a oportunidade de nos ajudar a aprender com eles. O resultado é que aos poucos vamos nos acostumando a não arriscar e a evitar erros a todo custo. Não há nada pior para o aprendizado do que o medo de errar. Erre! Erre de novo! Erre à vontade. Erre quantas vezes forem necessárias até acertar.

Não deixe que a escola te ensine a ser apenas consumidora de ideias.
A escola do passado se limita a ruminar as ideias dos outros. Diariamente, aula após aula, os alunos mastigam, engolem e digerem um enorme cardápio de informações. Não há nenhum espaço para que eles gerem conhecimento, produzam pensamentos, criem ideias, somem. Os alunos são tratados como se fossem incapazes disso e logo se convencem dessa incapacidade. O mundo do futuro é o mundo da troca. Nele, os bem sucedidos não serão os que forem capazes de acumular mais ideias, mas os que forem capazes de distribuir mais. Escreva, desenhe, cante, dance, filme, blogue, fotografe, pinte e borde. Crie, produza, pense, gere, compartilhe.

E o mais importante de tudo, minha filha: não deixe que a escola te ensine que aprender é a mesma coisa que ser ensinado.
Toda criança nasce uma esponjinha de conhecimento ávida para absorver os comos e os porquês de tudo que vê. Essa curiosidade sem fim, essa fome de aprender costuma durar até o exato momento em que ela passa pela porta da sala de aula da primeira série da escola do passado. É nesse momento que as crianças são convencidas que aprender não é experimentar, sentir e sujar as mãos de terra ou tinta, como faziam até agora, mas sim sentar silenciosamente em cadeiras alinhadas e ser ensinado por um professor que é o dono de todo o saber e que decide sozinho a hora de começar e de parar de estudar cada assunto. O aprendizado não vem mais da interação da própria criança com o objeto que ela está conhecendo. Agora, ele é “transferido”. A criança não faz mais perguntas, ouve respostas. A busca do conhecimento não começa mais nas interrogações dos alunos, mas nas afirmações do professor; o estudo não mais se inicia na curiosidade, mas na autoridade. A criança não está mais no comando do seu aprendizado, ela não é mais um sujeito ativo no ato de aprender, é um sujeito passivo do ato de ensinar do professor. Em resumo, a criança não mais aprende, é ensinada. Não abra mão da direção da tua vida. Viver é aprender e você tem autonomia (ou seja, a liberdade e a responsabilidade) para decidir o que aprender e, portanto, como viver. Não a ceda a ninguém.

Se você conseguir impedir a escola de te ensinar essas coisas, vai acabar descobrindo que vida escolar é diferente de vida de aprendizado. E então, terá a vida inteira para desfrutar dessa incrível Era do Conhecimento que está apenas começando.

Te amo.

Teu pai

quinta-feira, 12 de março de 2015

Workshop Perfil Cognitivo


WORKSHOP PERFIL COGNITIVO - um mapa do seu potencial
Data: 24/03/2015 (3ª feira)
Nº de participantes: 10 pessoas
Horário: das 18h às 22h
Local: Espaço Educacional - Rua Gomes de carvalho, 345 na Vila Olimpia
Objetivo: Viagem Colaborativa a Findhorn
https://www.facebook.com/events/1550999881826382/

O Perfil Cognitivo foi desenvolvido como resultado de muitos anos de estudo, experimentação e avaliação, sempre com o objetivo de descobrir recursos e ferramentas que propiciassem um aprendizado com prazer e produtividade. Trata-se de uma poderosa ferramenta que desperta e desenvolve o autoconhecimento de uma maneira leve, prazerosa, extremamente prática e eficiente.

Este recurso mapeia a forma como pensamos, aprendemos e agimos, indicando também nossas principais habilidades e interesses. É formado por um conjunto de testes e pela associação de seus resultados com situações do dia a dia.

Acreditamos que nosso modo de pensar é único e que cada cérebro absorve, organiza e reage às informações do seu jeito. Daí a necessidade de descobrir o “nosso jeito” de pensar, estudar, aprender, sentir e relacionar. 

O Perfil Cognitivo é um mapa nessa aventura de autoconhecimento, na busca de quem você é, de como você é e como pode revelar e explorar o que tem de melhor. 

O objetivo é que o trabalho de autoconhecimento torne-se um hábito diário, desenvolvendo a capacidade de pensar sobre suas atitudes e avaliar seus pontos fracos e fortes diante de situações-problema. 

Para melhor organização e apresentação dos resultados, dividimos esse mapeamento em três partes: Estilos de Aprendizado, Estilos de Raciocínio e Inteligências Múltiplas.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Conheça mais o EE



Diego Macedo, da Escola de Rua, hoje é um professor e educador no Espaço Educacional e fez quatro perguntas para a pedagoga Jamile Coelho, diretora do Espaço Educacional. Confira abaixo as respostas, que foram discutidas com toda a equipe do EE. O resultado foi uma integração e sincronicidade entre todos os educadores. Confira:

1. Qual é a questão que está por trás do “chamado” ou propósito do Espaço Educacional ?

O que está por trás de tudo que fazemos é olhar o ser humano em primeiro lugar e construir um vínculo afetivo para ensinar e aprender. Atendemos as necessidades de quem chega de forma personalizada, levando a pessoa por um caminho de aprendizado em que se sinta motivado (“brilho nos olhos”) e descubra seu potencial (autoconhecimento), criando “asas para voar” (autonomia). E, principalmente descubra que tem luz própria! Acho que três palavras resumem este chamado: Aprendizado para a vida, autoconhecimento e inovação.

O EE tem uma missão há muitos anos: “Educar com competência, criatividade e afetividade.”

2. Para que esse chamado ou propósito aconteça, o que está faltando?

Está faltando uma expansão, ou seja, que mais pessoas que venham à procura de nosso trabalho. Acredito que muitas pessoas ainda pensam que aqui é um lugar de reforço escolar. Não enxergam verdadeiramente o que fazemos com muito amor e competência.

O que está aprendendo sobre si mesma no Espaço Educacional?

Aprendo a cada dia que eu já enxergava coisas que estão vindo à tona agora (educação para a vida de uma forma diferente da tradicional), quando todos pensavam que eu ia ter uma escola e eu sabia que não era uma escola que eu queria. Na época, não sabia definir, mas não tive medo de ir em busca do meu sonho, sempre construindo com outras pessoas, os inúmeros professores que já passaram pelo EE, e que, quando saíam, afirmavam que aqui era o lugar que mais haviam aprendido o que era ser um educador.

Aprendi também que reflito no EE muito do que eu sou (criativa, afetiva, inovadora) e minhas dificuldades (equilibrar os hemisférios cerebrais), pois sou muito emocional, intuitiva (Lado Direito do cérebro) e preciso desenvolver a parte racional (Lado esquerdo do cérebro).

4. Quais os próximos passos no Espaço Educacional?

Entre os próximos passos estão:

a) Trazer aos poucos para o EE o aprendizado em rede de forma colaborativa e inclusiva;

b) Abrir espaço para um coworking para educação inovadora, ou seja, utilizar todo nosso espaço de aprendizagem para que outras pessoas que tenham os mesmos valores e crenças utilizem (manhã, tarde, noite e finais de semana) e promovam uma circulação de energia;

c) Apresentar para as pessoas o que fazemos por meio de vídeos no canal do Espaço Educacional no youtube e pelo face e blog do EE, atualizar o site do EE e outras ideias que forem surgindo;

d) Aumentar o número de alunos do Projeto Recomeçar é uma necessidade, pois é um projeto que resgatamos o ser humano que por algum motivo estava excluído e com bloqueio no processo de aprendizagem.