A sugestão de leitura é o livro "Eu Sou Malala". A pedagoga Jamile Magrin Goulart Coelho, diretora do Espaço Educacional, selecionou trechos do livro e fez sua análise (em negrito). Confiram:
Ganhei o livro de meu filho e minha nora no Dia das Mães e, quando comecei a ler, não queria mais parar. Eu me encantei com a história de uma menina que já tinha conexão com sua intenção de vida desde muito cedo e que lutou contra adversidades de forma corajosa, carregada de amor e fé. Ela, como eu, acredita na educação como uma missão de vida. Estamos em países diferentes, em gerações diferentes, mas acreditamos na mesma coisa: que a educação é um ato de amor. Aprendi muito com a Malala e admirei a forma corajosa como enfrentou a escassez e a está transformando em abundância com sua história de vida.
"Malala Yousafzai nasceu em 1997, no vale do Swat, Paquistão, e chamou a atenção do publico ao escrever para a BBC Urdu a respeito da vida sob o Talibã. Em outubro de 2012, foi perseguida e atingida na cabeça por um tiro quando voltava da escola. Contrariamente às expectativas, sobreviveu e agora continua sua campanha por meio do Fundo Malala, uma organização sem fins lucrativos de apoio à educação de meninas em comunidades ao redor do mundo."
Uma garota que amava aprender e que soube lutar por aquilo que acreditava: que todas as meninas tivessem direito à educação. Quebrando paradigmas da cultura de seu país, que proibia as mulheres de estudar. Sempre se apoiando no exemplo de seu pai.
"Há um ano saí de casa para ir à escola e nunca mais voltei. Levei um tiro de um dos homens do Talibã e mergulhei no inconsciente do Paquistão. Algumas pessoas dizem que não porei mais os pés em meu país, mas acredito firmemente que retornarei. Ser arrancada de uma nação que se ama é algo que não se deseja a ninguém."
A minha intuição me diz que ela retornará ao seu país com uma liderança conquistada a partir de seu sacrifício de viver fora de sua terra natal e continuar lutando pelo que acredita.
"Hoje, quando abro os olhos de manhã, anseio por ver meu velho quarto, com as minhas coisas, as roupas todas no chão e os troféus que ganhei na escola nas palestras. Mas agora moro em um país que fica a cinco horas de distancia de minha querida terra natal, o Paquistão, e de minha casa, no vale do Swat."
Por mais conforto que se tenha, o valor das coisas está em fazer parte de nossa história e trazer a bagagem emocional que carregam. O valor está não no objeto, mas em seu significado pra nós.
"Meu coração sorri quando me lembro dos habitantes do Swat. Meu pensamento me leva até a escola e lá eu me reúno com minhas colegas e professoras. Encontro Moniba, minha melhor amiga, e nos sentamos juntas, conversando e brincando, como se eu nunca tivesse saído de lá. Então eu me recordo de que estou em Birmingham, Inglaterra."
Todas as lembranças carregadas de propósito de quem nunca teve nada fácil ficam guardadas no fundo do coração como se ele fosse uma mochila que carregamos com tudo que precisamos para sobreviver e correr atrás de nossos sonhos.
"No dia em que, nasci as pessoas da nossa aldeia tiveram pena de minha mãe, e ninguém deu os parabéns a meu pai. Vim ao mundo durante a madrugada, quando a última estrela se apaga. Meu pai não tinha dinheiro para o hospital ou para uma parteira; então uma vizinha ajudou minha mãe. Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar."
Mesmo com toda esta cultura patriarcal que desvaloriza a mulher, nasce uma menina que veio para mudar e quebrar paradigmas. Uma menina que desde a infância já tinha clara a sua intenção de vida de lutar pelo direito à educação.
"Meu pai, Ziauddin, é diferente da maior parte dos homens pachtuns. Pegou a árvore e riscou uma linha a partir de seu nome, no formato de um pirulito. Ao fim da linha escreveu 'Malala'. Disse que olhou nos meus olhos assim que nasci e se apaixonou. Comentou com as pessoas: 'Sei que há algo diferente nessa criança'. Também pediu aos amigos para jogar frutas secas, doces e moedas em meu berço, algo reservado somente aos meninos."
Uma pessoa na família que nos ama e que nos enxerga além da aparência e que consegue ver a nossa alma por meio do brilho do olhar era tudo que Malala precisava para viver, crescer e lutar pelos seus sonhos com uma firmeza e convicção que só o amor nos dá. Tudo nasce de uma experiência de amor.
"Meu nome foi escolhido em homenagem a Malalai de Maiwand, a maior heroína do Afeganistão. Os pachtuns são um povo orgulhoso, composto de muitas tribos, dividido entre o Paquistão e o Afeganistão. Vivemos como há séculos, seguindo um código, que nos obriga a oferecer hospitalidade a todos e segundo o qual o valor mais importante é nang, a honra. A pior coisa que pode acontecer a um pachtum é a desonra. A vergonha é algo terrível para um homem pachtum. Temos um ditado: 'Sem honra, o mundo não vale nada'."
O seu nome Malala já era de uma heroína como que para prepará-la para sua missão frente à educação e as crianças que nascerem no Paquistão. E o código dos pachtun valorizando a honra e os valores morais era a base que ela precisava para construir a sua história.
"Meu pai contava a história de Malalai a toda pessoa que viesse à nossa casa. Eu a adorava, assim como amava ouvir as músicas que ele cantava para mim e a maneira como meu nome flutuava ao vento quando alguém o chamava."
Ouvir histórias na infância nos incendeia o coração e cria um terreno fértil para cultivar nossos sonhos. Assim foi com Malala que, ouvindo a história da heroína Malalai, já se identificava e aprendia a relacionar seu nome com música, histórias e lutas, preparando seu coração para a grande batalha que teria pela frente.
"Morávamos no lugar mais lindo do mundo. Meu vale, o vale do Swat, é um reino celestial de montanhas, cachoeiras generosas e lagos de água cristalina. Temos campos de flores silvestres, minas de esmeraldas, rios cheios de truta. As pessoas costumam chamar o Swat de Suíça do Oriente."
O amor pela natureza, identificando-se com ela e seu país, era uma outra forma de amor que a nutria por dentro, valorizando o lugar onde vivia.
"Minha mãe é muito bonita, e meu pai a adora. Trata-a como a um vaso de porcelana chinesa muito frágil, sem jamais encostar-lhe um dedo, ao contrario de como a maioria dos pachtuns trata as mulheres. O nome dela, Tor Pekai, significa 'tranças negras', embora seu cabelo seja castanho."
É impressionante que mesmo com uma forte identificação com o pai, não deixava de olhar de maneira especial sua mãe, traduzindo com palavras leves e carinhosas sua beleza e valorizando uma relação de respeito e de amor que havia entre os dois. Olhar cada pessoa com sua história e nos direcionarmos de forma amorosa, nos ajuda a enxergar o ser humano único, rico e verdadeiro que ali está. Esta atitude que na sociedade ocidental é tão pouco cultivada por causa dos julgamentos para Malala fluía naturalmente.
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