Páginas

terça-feira, 29 de março de 2016

Como levar o debate sobre política e democracia para a escola



A política deve ser tema de sala de aula, segundo especialistas consultados pelo Porvir, que defendem a importância de tratar, no contexto atual, de questões relacionadas ao funcionamento das instituições políticas, princípios da democracia e cidadania. Confira trechos do texto retirado do site de educação:

Pedro Markun, um dos autores do livro Quem Manda aqui?, que discute alguns mecanismos políticos de forma leve, colorida e própria para crianças, é um dos que defende tratar do assunto desde cedo . “Eu acredito que quando a gente conversa com a criança sobre qualquer coisa, ela se instrumentaliza para entender melhor esse assunto”, afirma Markun, que faz parte do Laboratório Hacker.

Ele conta que, quando sua primeira filha nasceu, pensou como iria conversar sobre política com ela. Em contraponto, defende que “é uma burrice pensar que crianças não conseguem conversar sobre assuntos complexos. Você fala de política com seu filho, só não percebe”. A ideia do livro Quem Manda Aqui?, portanto, é ser um instrumento para que as famílias consigam iniciar o debate com seus filhos. “Criar mecanismos que facilitam um primeiro ponto de contato com a política é extremamente saudável”.

Além disso, Markun ressalta que é preciso mostrar aos pequenos que, apesar de ser um campo complexo, onde existem divergências de pensamento, a educação política é o melhor caminho para formar adultos conscientes. “É muito importante que a gente comece a educar as crianças politicamente desde cedo, senão a gente vai ter uma classe adulta política igual a de hoje, de adultos despreparados para falar sobre política, raivosos e que não conseguem discutir amigavelmente com o coleguinha”.

E como aproximar crianças e adolescentes desse debate? Para Bruno Bissoli, cofundador e educador do Pé na Escola, um negócio social voltado para educação em direitos e democracia, os alunos já demonstram naturalmente interesse em temas como direitos humanos e política. No entanto, a escola precisa abrir espaço para que eles possam se expressar. “Isso é essencial para o exercício da nossa cidadania, mas desde sempre acabamos tendo que aprender como autodidatas. A escola se mantém muito distante disso, sendo que é uma matéria essencial para que a gente atue como um cidadão pleno”, reflete.

Antes de inciar um diálogo sobre o tema, a também cofundadora Vanessa Pinheiro afirma que os educadores devem sair da posição de quem tem a verdade, para ouvir o que os estudantes têm a dizer. “O professor também tem um papel de trabalhar dentro de si os seus próprios preconceitos e discursos que ele está reproduzindo”, afirma. Segundo ela, uma estratégia interessante é incentivar que os alunos possam criar suas próprias regras internas para que o debate possa dar espaço a todos.

Ao dar voz para os alunos, os educadores devem se colocar em uma posição de mediador. De acordo com Mariana Vilella, cofundadora e educadora do Pé na Escola, eles precisam analisar se a conversa está fluindo de forma democrática e se todos estão conseguindo colocar o seu posicionamento. “O educador tem um papel bastante importante de mediar o diálogo, uma coisa que está faltando tanto na política e na educação”, explica.

Em tempos de discussões acirradas, Mariana menciona que é importante tornar o debate mais complexo, saindo de uma divisão polarizada entre bem e mal, para tentar entender como existem outras leituras da realidade. “Temos que colocar o estudante em uma posição que não é confortável para ele e forçar que ele também se coloque no lugar do outro”, afirma. Ela também defende que a escola não fique apenas no diálogo sobre política, mas também proponha a criação de projetos e pesquisas que possam refletir essa lógica de participação democrática. “Mais do que passar conceitos, a nossa preocupação principal é passar uma mensagem sobre o que é o pensar e o agir politicamente.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário