Confiram o texto "Da turma de alunos à comunidade aprendente", de Carlos Rodrigues Brandão, que reflete sobre a educação e a socialização:
Muitas vezes somos levados a pensar que ensinar e aprender é uma viagem de ida e volta que se passa em salas de aulas, na escola. A escola é o lugar social da educação. Essa é uma ideia correta, mas não inteiramente.
A educação que vivemos na escola, como estudantes, como professores, como as duas “coisas” ao mesmo tempo, é uma fração importante de nosso aprendizado, mas não única. A educação escolar é um momento de um processo múltiplo, de vários rostos e vivido entre diferentes momentos, a que costumamos dar nome de socialização.
Alguns estudiosos do assunto sugerem mesmo que ao longo de nossas vidas vivemos pelo menos duas dimensões do acontecimento da socialização. Vivemos desde o momento de nosso nascimento (alguns dizem que desde a nossa concepção) uma longa, fecunda e completa socialização primária.
É quando aprendemos conosco mesmos, com o lidar com o nosso corpo, atividade a que a criança pequeninas dedicam boa parte de seus dias. Aprendemos com o conviver com os mundos de nosso mundo. Aprendemos através de inúmeras e diferentes interações com nossa mãe, com nosso pai, com cada um e com os dois ao mesmo tempo. E com as outras pessoas de nossos círculos de vida: os outros integrantes da família nuclear, nossos parentes, vizinhos, amigos e tantos outros.
Ao longo de nossa vida – e não apenas durante a infância e a adolescência – convivemos em e entre diferentes grupos sociais. E dentro deles aprendemos: nossos grupos de idade (como uma “turma de amigo), nossos grupos de interesse (como futebol), nossas equipes de vida e de trabalho. Cada um deles aporta uma fração daquilo através do que, aos poucos e ao longo de toda vida, nós nos socializamos.
Palmer escreveu em 1999:
“Sinto-me apaixonadamente comprometido com a não violação das necessidades mais profundas da alma humana, coisa que a educação faz com alguma regularidade. Como professor, vi o preço que temos que pagar por um sistema educacional tão temeroso das coisas espirituais a ponto de negligenciar as verdadeiras questões de nossa vida; preferindo fatos em detrimento dos significados, informação as custas da sabedoria. Esse preço é um sistema escolar que nos aliena e nos entorpece, que forma jovens que jamais receberam orientação sobre as questões que tanto vivificam quanto acabrunham o espírito humano.
...defendendo qualquer meio que possamos encontrar de explorar a dimensão espiritual do ensino, do aprendizado da vida. Por 'espiritual', não quero dizer as formulações dogmáticas de uma tradição específica de fé tradicional, por mais que eu respeite essas tradições, e por mais benéficos que possam ser seus ensinamentos. O que tenho em mente é a antiquíssima e permanente busca humana por ligação com algo maior e mais digno de confiança que nossos egos – com nossa própria alma, com nossos semelhantes, com os mundos da história da natureza, com os ventos invisíveis do espírito, com o mistério de estar vivo.”
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