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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Empreendedor de 86 anos cria jogo para estimular o aprendizado da tabuada
O X da Questão surgiu há três anos e agora o projeto é acelerado pelo Seed, de Minas Gerais
Por Fabiano Cândido com Marina Salles 

Nos fundos de casa, Garcia mantém uma máquina de serigrafia montada para imprimir os jogos manualmente.

Nunca é tarde para empreender. E o marceneiro aposentado Hermenegildo Garcia, 86 anos, prova isso na prática, diariamente. Há três anos, ele criou um jogo para facilitar o aprendizado da tabuada entre crianças, chamado de O X da Questão. O sucesso na empreitada foi tanto que agora ele tem planos de lançar outro jogo para ajudar na alfabetização infantil.

Garcia começou a projetar o jogo nos fundos de casa, para ocupar a cabeça. No local, ainda estão as primeiras edições do jogo, espalhadas em mesas. O X da Questão é composto por peças, um tabuleiro e fichas para calcular e preencher pontos. Os primeiros jogos eram feitos manualmente e levavam um dia para ficar prontos.

Ao abrir a peça, a criança vê a operação de multiplicação, enquanto seus amigos memorizam o resultado da conta.

Para o empreendedor, foi essa mão de obra para produzir os joguinhos que impulsionou a empresa. Aconselhado pelo filho e sócio, Fábio Garcia, 51 anos, que é designer e publicitário, ele procurou o programa de aceleração do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), do governo de Minas Gerais. A ideia era aproveitar o potencial do jogo e levá-lo ao mercado. Em novembro de 2013, o projeto foi aprovado pela aceleradora e ganhou outra cara.

Para entrar no programa, Fábio ajudou o pai a apresentar a proposta do jogo e modelá-lo para a produção em larga escala, com impressão em gráfica. Os dois também precisaram dar uma base tecnológica à iniciativa. Da exigência, surgiu a Decoreba, personagem em realidade aumentada. O processo ocorreu dias antes de ele inscrever O X da Questão na primeira rodada de investimentos promovida pelo Seed, no ano passado.

Pensada para interagir com o público infantil em smartphones, tablets ou computadores, a Decoreba tem a função de estimular o aprendizado a partir de algumas reações. Quando a criança acerta a resposta da operação matemática, ela fica brava; quando erra, a Decoreba ganha pontos.

Fábio se mudou para uma república de estudantes em Belo Horizonte para acelerar a empresa criada pelo pai.

Garcia está feliz com o progresso de sua ideia e quer priorizar o acesso ao jogo, incentivando o aprendizado da matemática. “Trabalhamos com a oferta ‘compre um, doe um’, para aumentar o alcance da iniciativa e permitir que os jogos cheguem a comunidades carentes”.

Além dessa proposta, a startup envia com os jogos um tutorial de como realizar o Dia da Tabuada. Fábio diz que a ideia é que os jogos não fiquem guardados “juntando pó nas escolas”. Com essa mobilização, é possível chamar a atenção das crianças para O X da Questão e realizar dinâmicas que integrem alunos e professores. O jogo já tem uma versão em braile e os empreendedores esperam que o uso do aplicativo com sons facilite a interação das crianças cegas com os colegas.

A equipe de O X da Questão também tem a parceria do analista de marketing Guilherme Fuzatto e do programador Dirceu Silva que, junto com o time, buscam investimento para desenvolver o aplicativo da Decoreba e possibilitar a impressão do jogo em escala. Hoje, cada unidade sai por R$ 25, o que não gera uma receita significativa, levando-se em consideração os custos de impressão e o projeto “compre um, doe um”.



História

Neto de espanhóis, Garcia nasceu em um sítio em Mogi das Cruzes (SP) e cursou o ensino fundamental até a quarta série. Na escola, ele diz que não foi fácil aprender a tabuada. “Se errasse, a professora mandava copiar mil vezes.” Criar os jogos foi a forma que o empreendedor encontrou de se manter ativo e lutar contra os obstáculos da vida – ele sofreu um acidente doméstico e perdeu a visão de um dos olhos, teve câncer de próstata e mantém sob controle problemas de coração, mas não perde o bom humor. “Arrumei uma coisa para me ocupar, porque acho que a pessoa não deve parar nunca. O jogo tem sido meu passatempo.” Casado três vezes, ele tem oito netos, com quem divide os prazeres de testar cada nova ideia para o jogo. “Isso quando eles não tem preguiça”, brinca.

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